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terça-feira, 23 de outubro de 2012

As diferenças entre as condições de trabalho entre a América inglesa e a América espanhola

 

Introdução

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A busca incessante por metais preciosos, bem como pedras, influenciou drasticamente a economia européia, favorecendo especialmente a Inglaterra e à Revolução Industrial nascente nesta nação. Desta forma, tal exploração impulsionou ao capitalismo comercial e industrial da Europa, promovendo a acumulação primitiva de capitais. Esta explosão econômica, bem como a grande circulação de moeda, gerou um importante processo de inflação, pontuado em especial na Espanha. E, em relação aos países ibéricos, esta exploração mineradora e agroexportadora (como no caso do Brasil) foi determinante no panorama da colonização.

Quanto à colonização inglesa na América, todavia, o processo de ocupação deu-se de maneira mais lenta e descontínua. Pontua-se também, a este ponto, uma presença do Estado Inglês mais tênue, sob certos pontos de vista, na América.

As diferenças entre as condições de trabalho entre a América

inglesa e a América espanhola

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O fator extração de metais foi, por muitas ocasiões, a explicação dada ao tipo de colonização praticada na América Latina, enquanto a ausências destas riquezas em solo colonial inglês – especialmente nos Estados Unidos – fomentou a colonização voltada ao povoamento. Entretanto, é certo que, a colonização praticada por Portugal e Espanha valorizava ao enriquecimento através da exploração mineral, mas, por outro lado, no entorno desta mineração, formava-se uma estrutura social distinta da metrópole. Ou seja, ainda que esta exploração de metais tenha sido relevante, é preciso se ressaltar que às margens desta germinam as vilas, o comércio, as vias de acesso e escoamento destes.

Por outro lado, a exploração mineradora na América espanhola deu-se inicialmente baseada na iniciativa privada, assim como, apoiada em técnicas rudimentares. Os indígenas utilizados em tal empreita rarearam gradativamente, até ao ponto que a ausência de mão-de-obra, aumentou o preço do trabalho.

Quanto aos objetivos gerais da política mercantilista praticada na América pela nações ibéricas, segundo o site Ciência à Mão:

Esses objetivos eram impulsionar as atividades comerciais e garantir um fluxo de metais preciosos que favorecessem o fortalecimento econômico e político dos respectivos reinos. Não foi, portanto, por acaso que as Coroas ibéricas se preocuparam em estabelecer regras rígidas na relação com as suas colônias. O exclusivo comercial, o controle dos portos, o combate ao contrabando, as limitações à produção de manufaturados e à circulação de idéias e ainda as exigências fiscais e administrativas constituíram um conjunto de medidas representativas do pacto colonial. Dessa maneira, o açúcar brasileiro e o ouro e a prata das colônias espanholas representaram o ponto de partida para a formação do sistema colonial mercantilista na América, que integrou também algumas colônias francesas e inglesas, especialmente nas Antilhas.

Disponível em: <http://www.cienciamao.usp.br/dados/t2k/_historiadobrasil_histb7.arquivo.pdf>. Acesso em: 06. Set.2011.

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Na mesma medida em que a mineração na América espanhola crescia e consequentemente a mão-de-obra necessária, tornou-se necessária a criação de uma estrutura que pudesse sustentá-la. Surgem, assim, as haciendas. Estas, em uma primeira observação, muito se assemelhavam à plantation que se implantara no Brasil. Entretanto, a utilização da mão de obra escrava – à exceção de Cuba – era bastante reduzida se comparada ao modelo lusobrasileiro. Fato este facilmente explicável graças ao oneroso valor do escravo africano se comparado à abundância e facilidade do trabalho indígena.

Ainda quanto ao trabalho indígena, é necessário salientar-se que este também era utilizado em larga escala na empreita mineradora. Sobre a aspereza do trabalho indígena nas minas, ainda no site Ciência à Mão:

O trabalho é duro: o índio passa oito horas na mina, mas as dimensões da galeria só permitem quatro horas de trabalho por trabalhador.(...) O trabalho é insano: o que ameaça o índio que trabalha no fundo, a curto prazo, é a pneumonia, ao sair do calor da mina e encontrar-se nessa montanha exposta ao vento, a 4.000 metros de altitude (...). Não se deve acreditar que o trabalho forçado seja gratuito; não é uma escravidão. O mitayo (...), isto é, o requisitado, tem direito a um jornal em prata com o qual deve alimentar-se (...).

Disponível em: <http://www.cienciamao.usp.br/dados/t2k/_historiadobrasil_histb7.arquivo.pdf>. Acesso em: 06. Set.2011.

E, em apoio às citadas haciendas (e por conta destas), o comércio surge como ponto determinante. Era imprescindível ao homem de bens da época, manter um estilo de vida europeu e supostamente digno e, desta forma, o comércio era capaz de manter supridas as necessidades que não poderiam ser atendidas na hacienda. Pode-se notar, assim, a ligação estabelecida entre mineradores, fazendeiros e artesãos e sua interdependência. Percebe-se com clareza, desta maneira, que a exploração mineradora não era a única faceta econômica que impulsionava a América Hispânica.

No tocante à Inglaterra, em primeira instância, nota-se o caráter tardio do processo de colonização, a forma espontânea da ocupação das regiões e as especificidades geográfico-climáticas do espaço norte-americano. Outro ponto a ser destacado é a posterior formação do "Comércio Triangular", ou seja, a cana e melado, obtidos nas Antilhas, eram utilizados para obtenção do rum nas colônias, este era negociado na África em troca de escravos que, por sua vez, eram vendidos nas Antilhas. Estabelecia-se uma rota contínua de comércio, com a aquisição de grandes dividendos.

Porém, grandes diferenças também permearam a forma de colonização e economia no amplo território norte-americano. Ao Norte, as pequenas propriedades, baseadas no trabalho familiar predominavam com a produção voltada à subsistência e seu excedente, aos mercados regionais. A pirâmide social estratificou-se, composta por grandes comerciantes, pequenos proprietários rurais, pequenos negociantes, artesãos e, por fim, os trabalhadores braçais.

Sobressai ainda o fator religioso, marcado pela presença dos puritanos nesta região, como determinante para que grande parte da população de trabalhadores fosse assalariada. Dentro das crenças dos praticantes desta visão religiosa, a ascenção social era uma benção divina, assim como o trabalho uma forma de se chegar a esta suposta predestinação. E visto, além disso, por esta perspectiva, o trabalho escravo era algo supérfluo e, muitas vezes, dispensável.

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No Norte, ainda que as condições geográficas impedissem a presença de uma atividade agrícola voltada aos grandes mercados, as mesmas condições, enquanto favoráveis à implantação de portos, impulsionou ao comércio marítimo. Assim, esta mesma formação de portos favoreceu a implantação de estaleiros que, por sua vez, subsidiaram o sucesso do “Comércio Triangular”.

Por outro lado, o Sul, com seu espaço geográfico entrecortado por rios navegáveis, clima mais ameno e solo fecundo estimulou a implantação de grandes latifúndios que cultivavam ao tabaco, índigo, arroz e algodão. Ainda que, a princípio o trabalho tenha se fundamentado na produção familiar e na servidão por contrato, esta deu lugar, com o crescimento das propriedades, ao trabalho escravo do africano.

Diferentemente dos colonos do Norte, os sulistas em sua maioria eram anglicanos, além de uma minoria católica, não compartilhando, portanto, do mesmo consenso acerca do trabalho como forma de se alcançar a predestinação da ascenção social. Ressalta-se também que apesar de existir uma maior tolerância religiosa ao Sul, as diferenças sociais, todavia, eram mais evidentes, pontuado pela presença de escravos e descendentes.

Quanto às colônias centrais, o Prof. Gilbert Batsanev, coloca:

As últimas colônias a surgir na América inglesa foram as centrais, localizadas entre a Nova Inglaterra e as colônias sulistas, numa área na qual já existiam núcleos criados por holandeses, franceses, alemães, e suecos. As colônias do centro – Nova York, Nova Jersey, Pensilvânia, Delaware, Maryland – souberam mesclar o dinamismo da nova Inglaterra com a tolerância religiosa das terras meridionais.

Assim, nas planícies irrigadas por chuvas abundantes da região central, desenvolveram-se atividades semelhantes às das colônias do norte, tais como a policultura e a criação de gado. Ali também prosperaram a atividade manufatureira e um comércio de âmbito local e regional. Isso fez surgir importantes centros urbanos e, com eles, uma sociedade caracteristicamente urbana como a da Nova Inglaterra. Mas era uma sociedade mãos cosmopolita e tolerante do que a nortista.

O povoamento teve início com a fundação em 1681, das colônias da Pensilvânia e de Delaware por Willian Penn, que incentivou a vinda de imigrantes de todas as crenças e nacionalidades. A sede da Pensilvânia era a cidade de Filadélfia, conhecida pelo seu planejamento urbanístico e pelo movimentado comércio marítimo.

Disponível em: < http://www.professorgilbert.com.br/interno.php?id=264>. Acesso em: 06. Set.2011.

No entanto, como características compartilhadas entre as diversas regiões da América inglesa, pode se afirmar que, diferentemente da visão desonrosa ou vexatória do trabalho partilhada por espanhóis e portugueses, este era glorificado por ingleses. Este último pensamento derivava-se do ideário burguês voltado à laboração e consequente enriquecimento, além da forte presença religiosa dos protestantes, com especial destaque aos calvinistas.

Além disso, o trabalho assalariado e livre atingiu um índice de 2/3 da população que, possuía grandes possibilidades de mobilidade social, assim como salários mais altos do que na própria Inglaterra. Todavia, o custo de vida na colônia também era bastante oneroso, graças aos altos preços praticados na compra de produtos manufaturados e gêneros de primeira necessidade. Também é sublinhado no período, as más condições de trabalho, bem como, a existência do trabalho servil.

O trabalho servil, ou seja, aquele isento de remuneração e forçoso, caracterizado por ser a troco apenas de alimento e cama, foi uma das principais formas de trabalho na América inglesa. Por muitas vezes, a vinda para a América era negociada em troca de um período de até sete anos de trabalho servil, sujeito a castigos físicos. Mesmo crianças poderiam se enquadrar dentro do trabalho como servos, estando sujeitos a este até os 21 anos.

Entretanto, o trabalho escravo passou a ganhar maior proporção, na medida em que, por exemplo, as fazendas do Sul tornavam-se maiores e mais prósperas, assim como o comércio no Norte consolidava-se. Para tanto, ao final do período colonial, às vésperas da Independência dos Estados Unidos, a população negra somava um percentual de mais de 20% no território, concentrados em sua maioria na região Sul.

Referências

A colonização inglesa na América do Norte. Disponível em: < http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=145>. Acesso em: 06.Set.2011.

A colonização espanhola e inglesa na América. Disponível em:

< http://www.cienciamao.usp.br/dados/t2k/_historiadobrasil_histb7.arquivo.pdf>. Acesso em: 06.Set.2011.

Dominação Inglesa. Disponível em:

< http://www.professorgilbert.com.br/interno.php?id=264>. Acesso em: 06.Set.2011.

Colonização inglesa. Disponível em:

< http://www.brasilescola.com/historiag/colonizacao-inglesa.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

As haciendas. Disponível em:

< http://www.brasilescola.com/historia-da-america/as-haciendas.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

Colonização espanhola. Disponível em:

< http://mundoeducacao.uol.com.br/historia-america/colonizacao-espanhola.htm>. Acesso em: 06.Set.2011.

Imagens

1. Colonização inglesa. Disponível em:

< http://www.brasilescola.com/upload/e/Colonizacao%20Inglesa%20-%20BRASILESCOLA.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

2. Ação dos espanhóis sobre os indígenas. Disponível em:

< http://mundoeducacao.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/c15813ea24b307f771bc0fcee3dc57a9.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

3. Antiga hacienda mexicana. Disponível em: < http://www.brasilescola.com/upload/e/Hacienda%20-%20BRASIL%20ESCOLA.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

4. Colonos ingleses na América. Disponível em: < http://3.bp.blogspot.com/_uZ36BDz9F6g/S6QAQDEck5I/AAAAAAAAAgc/nHlnNpP9HVY/s1600/t045175b6zc.jpg>. Acesso em: 06.Set.2011.

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