Este blog destina-se a ser uma fonte de pesquisa na disciplina de História, bem como indicar artigos, filmes, livros e outros aos interessados.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Análise do Filme “Um Cão Andaluz”

 

clip_image002

Título em Português: Um Cão Andaluz

Título Original: Un Chien Andalou

1929 . FR . 16’

Realização

Luis Buñuel

Argumento

Salvador Dalí

Luis Buñuel

Produção

Luis Buñuel

Edição

Luis Buñuel

Com

Simonne Mareuil

Pierre Batchef

Luis Buñuel

Salvador Dalí

O filme “Um Cão Andaluz” de 1929 representa o vislumbrar de um novo conceito de cinema e mais do que isso, de um novo conceito e luz sobre a arte em geral. Constam apenas alguns minutos para se contar (ou desestruturar) a história de um casal, através de uma visão onírica, por vezes cruel, profundamente psicanalítica, mas sobretudo, vanguardista da sétima arte.

Seu roteiro não é linear e tampouco a prima facie parece fazer algum sentido lógico. Como em um emaranhado de cenas que não parecem ter alguma ligação entre si, caminha “Um Cão Andaluz” entre o real e o imaginário, o concreto e a fragmentação. Uma visão, porventura, da sociedade pós-guerra da época e seus elementos humanos.

É uma película absolutamente inovadora, duramente criticada quando de seu lançamento em 1929. Mas seu caráter inovador e revolucionário venceu os tempos e até mesmo os padrões da sociedade que o condenou anteriormente. Nasceu em meio ao movimento Surrealista, das mãos de Luis Buñuel e Salvador Dali, talvez o maior ícone do Surrealismo. Assim como colocou Buñuel em sua autobiografia, “Mi Ultimo Suspiro” (1982):

Este filme nasceu da confluência de dois sonhos. Dalí me convidou para passar uns dias em casa e ao chegar a Figueras, disse-me um sonho que tinha há muito tempo, em que uma nuvem esfarrapada cortava a lua e uma lâmina perfurou um olho. Ele, por sua vez, disse-me ontem à noite tinha sonhado uma mão cheia de formigas. Ele acrescentou: "E se, com base nisso, fizéssemos um filme?"
A princípio, eu estava hesitante, mas logo colocamos as mãos a obra em Figueiras.
Nós escrevemos o roteiro em menos de uma semana, seguindo uma regra simples adaptada de comum acordo: não aceitar qualquer idéia ou imagem que poderia levar a uma explicação racional, psicológica ou cultural. Abra todas as portas ao irracional. Não admitir mais do que as imagens que nos impressionaram, sem tentar descobrir porquê.

Através deste trecho, podemos claramente vislumbrar a ideologia que guiou o Surrealismo e a idealização e produção do filme em questão. Em primeira instância, o inconsciente humano, que no Dadaísmo estivera presente de maneira sutil, é evidenciado e tratado na obra como matéria-prima e inspiração para sua realização. Ou seja, através do sonho de Dalí, cria-se e origina-se o argumento. É a manifestação do inconsciente, o oculto da mentalidade humana, sem lógica ou aparente racionalidade, colocado diante do espectador.

Quando Buñuel cita o comum acordo com Dalí em abrir as portas ao irracional, bem como não adotar nenhuma imagem que conduzisse a uma explicação, trata também do Automatismo, pregado por André Breton. As imagens do filme foram criadas sem que a lógica se interpusesse em sua idealização, baseada apenas no inconsciente. Ficam claras neste ponto, as influências de Freud e seus conceitos da Psicanálise sobre o Surrealismo.

Outro ponto de destaque que nos leva ao caminho do aleatório, e um detalhe pouco abordado, são as legendas que unem as imagens. Estas, intencionalmente, não conduzem a nenhum padrão lógico. São aleatórias e, portanto, não ligam a narrativa a padrões de continuidade.

O filme é uma crítica a sociedade normatizada, massificada e dominada por seus próprios padrões – uma crítica que retornaria posteriormente na Pop Art, ainda que de maneira diversa. É como um delírio comum, um devaneio por vezes assombroso, mas que leva a interpretação individual. Leva desde a sua incômoda cena inicial – quando o olho de uma mulher é submetido ao corte de uma navalha – e transita entre suas diversas divagações – a cena da mulher atropelada, o passeio na praia, o estranho ciclista caído na calçada, entre outros.

Opõe-se aos padrões considerados ideais de narrativa quando não encadeia idéias e sim, lança-as à interpretação pessoal. É o caminho do sonho e do pesadelo, entre imagens de cunho sensual e as chocantes, ou que evoluem entre ambas conotações – como no momento em que o homem ao tocar a mulher lascivamente, age como um animal.

“Um Cão Andaluz”, como já foi colocado, é o reflexo de um Mundo destruído e fragmentado pela guerra. O espelho da sociedade quebrado, através da arte que passa a não aceitar normas e a enxerga através da morbidez do irracional. Assim como as correntes diversas da arte moderna, o Surrealismo é fruto de seu tempo e da interpretação artística desta visão. E sendo este movimento, algo ainda que possuindo suas raízes no Dadaísmo, uma completa inovação dos padrões instituídos. E esta mesma qualidade de visão seria aproveitada, de maneiras diferentes, em correntes artísticas futuras nas quais havia a permissividade ao inconsciente e a crítica.

A metáfora se faz presente na obra, mas conta com uma experiência individual do espectador, como se este estivesse embutido ao sonho/pesadelo retratado e sendo elemento, neste momento, afastado da sociedade. A cena onde as formigas saem da mão do ator, referencia a expressão francesa “fourmis dans les paumes”(formigas nas mãos) que significa "um grande desejo de matar", como ícone e exemplo destas metáforas.

É, finalmente, uma obra de vanguarda, voltada a captar a essência de sua época, sem preocupar-se com a lógica, enfatizando a criação e suas raízes nas sombras da mente. “Um Cão Andaluz” pode chocar, assombrar, indignar ou produzir qualquer tipo de reação, mas fato é que sobreviveu ao pesadelo da Segunda Guerra, como se fosse mera visão artística do sonho e do inconsciente.

Referências

Um Cão Andaluz.

Disponível em:

http://blogdowandersonlima.blogspot.com/2010/03/um-cao-andaluz-poesia-e-o-sonho-invadem.html

Acesso em: 20.Maio.2010.

Um Cão Andaluz

Disponível em:

http://www.labcom.ubi.pt/cinubiteca/pdf/planocorte06.pdf

Acesso em: 31.Maio.2010.

Imagem do DVD do filme.

Disponível em:

http://www.ufrgs.br/nemes/2009/04/um-cao-andaluz-1928.html

Acesso em: 01.Jun.2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário