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terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Questão Homérica

 

A Questão Homérica pode ser definida como a dúvida pertinente acerca da autoria dos poemas épicos: Odisséia e Ilíada. Este tema, dada a sua importância, tem sido abordado por muitos estudiosos, desde tempos imemoriais até os dias de hoje. A título de simplificar a solução desta questão, muitos autores optaram em dividi-la entre três vertentes e teses principais:

1) Unitarista: onde apenas um autor é creditado como autor das obras.

2) Dualista: onde cada uma das obras é creditada a um autor.

3) Pluralista: onde as obras são creditadas a vários autores diferentes.

A Odisséia e a Ilíada referem-se ao período que compreende a civilização creto-micênica, apesar de terem sido escritos posteriormente. Assim, as obras podem ser situadas no período pré-homérico e homérico, onde o autor tratava seus temas sob a óptica de sua própria época. Temos, neste ponto a visão de Finley (1988) que afirma, segundo seus estudos, que Homero falava de uma época que não vivera, mas que lhe era profundamente conhecida.

O objetivo de tais obras remete ao épico como uma forma de enaltecer aos heróis gregos e seus feitos grandiosos, como uma forma de resgate ao passado helênico. Também vislumbra-se em ambas obras, clara apologia a aristocracia grega, com referências a estrutura e divisões sociais, o papel dos escravos na sociedade e a valorização da guerra. Ainda coloca as relações entre homens e o divino, a adivinhação e o caráter místico em toda sua multiplicidade de ritos.

Quanto ao próprio Homero, voltando-se a tese Unitarista, teríamos este como único autor das obras. Mas, mesmo os defensores de tal tese ainda dividem-se, entre aqueles que as creditam a Homero, bem como aqueles que colocam sua autoria a um desconhecido, questionando inclusive, a própria existência de Homero.

Muitos creditam a autoria da Odisséia e da Ilíada aos aedos e rapsodos, ou ainda crêem que o próprio Homero fosse um destes poetas iletrados, que compunham seus versos de momento nos banquetes e cerimônias religiosas. Ainda sobre este tema, segue o comentário do Prof. Antonio Mattoso (2008), da PUC – Rio, no Jornal Plástico Bolha:

Se tomarmos como exemplo a Ilíada e a Odisséia, no século VIII a.C., veremos que os dois poemas foram compostos originalmente para serem cantados, por uma sociedade ágrafa; portanto, essas canções desconheciam uma redação definitiva. Os cantores, aedos, considerados mestres da verdade, segundo Marcel Detienne, eram inspirados pelas Musas e recriavam as canções a cada nova audição, acompanhados de um instrumento de corda. Na Odisséia, principalmente, há várias passagens em que se faz referência à habilidade do aedo. No domínio de Odisseu, Fêmio; na corte dos feácios, Demódoco. O espaço de recepção desses cantos eram os próprios banquetes (daîtes) no mégaron desses palácios. Estamos, portanto, diante de uma experiência viva e coletiva dirigida à audição. Já em seu diálogo Íon, Platão alude ao rapsodo Íon, membro de uma confraria de rapsodos especialistas em Homero. Ao contrário dos aedos, os rapsodos, agora com um bastão na mão, não mais cantam, mas recitam, o que já pressupõe um texto escrito e cristalizado, além de explicarem os versos de Homero.

No século 16 surgem a primeiras dúvidas quanto a autoria dos poemas, mas estas realmente passam a ser mais intensas no século 18. Estas suspeitas indicavam no sentido da autoria a partir de vários indivíduos que não o Homero, ou não somente este. Talvez estes textos, segundo alguns estudiosos, tenham sido apenas compilados através da narrativas dos aedos, já que o estilo de ambas obras são relativamente diferentes. Sobre os aedos e os textos em si, demosntra-nos Vidal-Naquet:

“Os aedos eram capazes, com um intervalo de poucos anos, de reproduzir, quase sem variantes, as epopéias puramente orais. (...) Dito isso, é difícil, por outro lado, ignorar o vínculo entre a fixação dos cantos épicos e o desenvolvimento da escrita alfabética fenícia adotada pelos gregos por volta de 900 a. C. A grande questão é saber quando os textos foram fixados. Bem cedo, segundo alguns especialistas, enquanto para outros não antes de 560 a. C., quando Pisístrato, um ‘tirano’ — isto é, governante não eleito de Atenas —, decidiu realizar uma edição oficial”.

Ainda pode ser colocada entre tais teses, a idéia que Homero tenha realmente idealizado tais poemas, mas que coube a outro personagem, a organização e reunião das obras.

Apesar de tantas teses quanto a autoria da Ilíada e Odisséia, fato é que ambas, sob vários aspectos, são absolutas enquanto obras literárias e fontes da História. São referências sobre os hábitos, crenças, estrutura da sociedade grega, apesar do tempo em que forma escritas e/ou compiladas.

O Momento Histórico das Obras

Até algum tempo atrás, considerava-se que a história da Guerra de Tróia fosse mera ficção e a cidade apenas mitológica. Mas são vários os estudos que contrariam estas suposições atualmente.

Em primeira instância é preciso que se leve em consideração a política expansionista e conquistadora da civilização creto-micênica, o que explicaria a existência de tal guerra.

clip_image008Heinrich Schieliemann (6 de janeiro de 1822, Neubukow, Mecklenburg-Schwerin – 26 de dezembro de 1890, Nápoles) foi um arqueólogo amador alemão, de notória paixão pela Grécia. Seus estudos acerca de Tróia, iniciados na região da Turquia, a partir de 11 de outubro de 1871, estenderam-se por quase vinte anos, entre escavações e achados de grande importância histórica e arqueológica.

As escavações de H. Schieliemann trouxeram a luz, diversas indagações e debates a respeito da existência da cidade, quando este, a partir de 1871, encontrou em suas escavações, cidades sobrepostas que aparentemente tratavam-se de Tróia.

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Tornou, assim, a lenda em realidade.

E mesmo, mais recentemente, é preciso que se ressalte a pesquisa da Universidade de Delaware, em fevereiro deste mesmo ano (2010), publicado pela revista “Geology” acerca de Tróia e a região. Assim confirmado pelo Jornal da Ciência, em 4 de Agosto de 2010:

'Nada do que a nossa pesquisa encontrou contraria as descrições da 'Ilíada' ', escreve John Kraft, geólogo da Universidade de Delaware, nos EUA, e principal autor do estudo.

O trabalho de Kraft consistiu em fazer dezenas de perfurações na costa noroeste da Turquia, analisar as camadas geológicas do terreno e fazer um mapa de como a região seria por volta de 3.250 anos atrás (...).

O resultado, indica o cientista, está de acordo com a 'Ilíada'. Tróia estaria na beira de uma baía. 

Na outra extremidade, num estreito braço de terra, os gregos teriam montado acampamento. Muitas das guerras descritas teriam ocorrido na planície Escamândria, onde deságuam os rios Escamandro e Simoente.
A baía, no entanto, foi coberta ao longo dos séculos, principalmente pela ação de assoreamento na região, causado pelos sedimentos trazidos pelos rios que desaguavam no local.

Os pesquisadores, que conduzem escavações desde 1977, fizeram buracos de 70 metros de profundidade e depararam com material que indicava que a região fora coberta por água salgada.
Segundo eles, o relevo era 'extremamente irregular, com uma série de rios que mudavam seu curso com frequência, pântanos e pequenas lagoas'.
Na conclusão, os cientistas são cautelosos: 'Apesar de os resultados não poderem validar a lenda, nós não encontramos nada no registro estratigráfico que negue os eventos da 'Ilíada' '.

Baseados em vários estudos, portanto, crê-se que Homero tenha vivido em um período de transição, onde vão gradualmente desaparecendo as realezas micênicas, dando lugar a minoria da aristocracia. E, levando-se em conta, que Homero em suas obras retratava ao passado, é bastante provável que a Guerra de Tróia tenha se desencadeado a partir do já citado desejo de expansão e conquista da civilização creto-micênica.

Assim, baseados nos cálculos de vários estudiosos da Antiguidade, provavelmente a Guerra de Tróia, retratada na Ilíada, situa-se entre 1346 a.C. e 1127 a.C., sendo que a data mais aceita seria a de 1184 a.C. Havendo, inclusive, a possibilidade de que este evento não tenha sido único, ou seja, corresponda a uma série de guerras sucessivas.

Os micênicos, após a invasão a sofisticada Creta, tornam-se comerciantes prósperos, além de guerreiros temíveis. Invadiam as cidades, valorizando as artes da guerra e conquista destes povos. Assim, situando ambas obras teríamos a Ilíada no período das conquistas e a Odisséia situada em período adjacente – no retorno heróico à Pátria.

A civilização creto-micênica, gradualmente vai perdendo sua força, levando à derrocada do poder centralizado, ao despovoamento dos grandes centros, ao fim da escrita e da arquitetura monumental. E é exatamente no período em que os gregos começam a reeguer-se da Idade das Trevas, que surgem a Ilíada e a Odisséia como marcos do pensamento e costumes gregos e o resgate de seus valores histórico-sociais.

Referências

- Questão Homérica. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/autores2/index35.html.

Acesso em: 01.Ago.2010.

- Aedos e Rapsodos. Disponível em:

http://www.jornalplasticobolha.com.br/pb20/oraculo.htm

Acesso em: 01.Ago.2010.

- Homero. Disponível em:

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u388.jhtm

Acesso em: 01.Ago.2010.

- Não é preciso ser Hércules para ler Homero. Disponível em:

http://www.jornalopcao.com.br/index.asp?secao=Imprensa&subsecao=Colunas&idjornal=83

Acesso em: 02.Ago.2010.

- Imagem Ilíada. Disponível em:

http://naniedias.blogspot.com/2010/06/10-dia-livro-mais-velho-que-voce-tem-ou.html

Acesso em: 03.Ago.2010.

- Imagem Odisséia. Disponível em:

http://www.submarino.com.br/produto/1/183295/odisseia?menuId=1345

Acesso em: 03.Ago.2010.

- Em Busca de Tróia. Disponível em:

http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=9274

Acesso em: 04.Ago.2010.

- Schieliemann na procura de Tróia. Disponível em:

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2007/01/31/000.htm

Acesso em: 04.Ago.2010.

- Muralhas da suposta Tróia. Disponível em:

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2007/01/31/000.htm

Acesso em: 04.Ago.2010.

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